quarta-feira, 8 de abril de 2015

Vamos falar sobre letra cursiva?


                Esse é um tema recorrente nas rodas de estudantes de pedagogia, coordenadores e se você for parar pra pensar, recorrente até em sua vida cotidiana.
                Sou assumidamente portador de uma letra cursiva “quase hieroglífica”. Meus traços não possuem características do padrão de um escritor de convites de casamento, e por algumas vezes meus recados ficavam restritos somente a minha interpretação, e da minha finada professora de Português Tia Denise.
                Sou fruto da escola tradicional dos anos 80, o que nos remetia a priorização do ensino de letra cursiva durante a educação infantil.  Através de sucessivas incursões pelo caderno de caligrafia, pude perceber que minha letra tomava contornos mais definidos (ainda sim feios como o piso salarial da categoria), no entanto tornava minha velocidade de pensamento criativo incompatível com minha velocidade reduzida para escrever. Resultado: Desinteresse pelo método de alfabetização utilizado pela professora. 

                O caderno de Caligrafia ficava aposentado dentro de minha casa, cedendo lugar as revistas em quadrinhos e pranchetas de desenho, nas quais eu tentava reproduzir as falas do Homem Aranha. As onomatopeias tiveram mais significado do que a Casinha Feliz, na qual residia uma família chefiada pelo pai, a letra O de Oto, e pela mãe, letra A de Alice. Os integrantes da Casinha Feliz trocavam seus trajes em ocasiões de festas. Durante as festas e outros momentos agradáveis, utilizavam letra cursiva. 
Nem pretendo me ater à figura das famílias tradicionais representada graficamente através de papai, mamãe, vovô e vovó, isso vai ser tema de um próximo texto, mas sim ao fato de que a letra cursiva de traços não muito regulares patrocinava ao aluno uma série de atribuições inverídicas e cobranças por parte dos pais, colegas e até mesmo professores, extremamente nocivas ao processo educacional e a estima de quem aprendia. Por sorte, em um lar de educadores, nunca fui muito julgado pelos “garranchos” e sim pela qualidade do que eu era capaz de produzir em letra bastão.
Partindo do pressuposto da teoria de Jean Piaget, o aluno é direcionado a encontrar soluções a partir da sua interação com a realidade a que pertence.  Nesse processo de interação, o aluno encontra no cotidiano, correspondências claras a letra de forma nas mais diversas situações.  Placas de trânsito, propaganda, rótulos, jornais, televisão, nas teclas do computador, nos livros... Já a letra cursiva fica praticamente restrita ao meio escolar.

Levando isso em consideração: Qual o formato permite pleno aproveitamento do processo de alfabetização?
Vários especialistas e educadores divergem suas opiniões quando o tema é levantado.
 Em uma etapa inicial na qual o aluno está aprendendo a representação gráfica da letra e sua relação com o fonema correspondente, é de suma importância que cada letra preserve sua individualidade, coisa que não acontece com a letra cursiva (emendada). É por esse motivo que o uso de letra de imprensa é o recomendado, pois tem traços mais fáceis para serem reproduzidos enquanto outras competências motoras ainda não foram plenamente desenvolvidas.
Há quem destaque o uso da letra cursiva como essencial para o desenvolvimento da coordenação motora fina.  Dentro da proposta Construtivista, a letra bastão é utilizada para alfabetizar por ser de fácil visualização e não exigir movimentos complexos na hora da escrita, respeitando assim a sequencia de desenvolvimento visual e motor da criança.
Existem inúmeras possibilidades para desenvolvimento da coordenação motora fina.  No meu campo de atuação (Novas Tecnologias) o simples uso do mouse no computador para desenhar já propicia esse desenvolvimento. Massa de modelar, colagens, desenhar e colorir patrocinam ganhos de habilidades muito mais significativos do que escrever “com letra emendada”.  Navegando pela neurociência, o simples ato de desenhar gera ganho de motricidade.
E aonde cabe a letra cursiva?
Com o acesso a todo tipo de mídia impressa ou digital, ao que lê e escreve em seu computador, a sociedade não exige tanto que o cidadão possua uma letra plasticamente perfeita. A Instituição Escolar deve aceitar que a letra cursiva já não é mais essencial e sequer possui o caráter seletivo das décadas anteriores. Ela deve ser encarada como um ganho, uma evolução.  O ponto central é: alfabetizar, patrocinar uma leitura correta e a compreensão perfeita do que se lê para integrar na mesma camada de conhecimento e equilibrar potencialidades. 

Até a próxima!



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