Esse
é um tema recorrente nas rodas de estudantes de pedagogia, coordenadores e se
você for parar pra pensar, recorrente até em sua vida cotidiana.
Sou
assumidamente portador de uma letra cursiva “quase hieroglífica”. Meus traços
não possuem características do padrão de um escritor de convites de casamento,
e por algumas vezes meus recados ficavam restritos somente a minha
interpretação, e da minha finada professora de Português Tia Denise.
Sou
fruto da escola tradicional dos anos 80, o que nos remetia a priorização do
ensino de letra cursiva durante a educação infantil. Através de sucessivas incursões pelo caderno
de caligrafia, pude perceber que minha letra tomava contornos mais definidos
(ainda sim feios como o piso salarial da categoria), no entanto tornava minha
velocidade de pensamento criativo incompatível com minha velocidade reduzida
para escrever. Resultado: Desinteresse pelo método de alfabetização utilizado
pela professora.
O
caderno de Caligrafia ficava aposentado dentro de minha casa, cedendo lugar as
revistas em quadrinhos e pranchetas de desenho, nas quais eu tentava reproduzir
as falas do Homem Aranha. As onomatopeias tiveram mais significado do que a
Casinha Feliz, na qual residia uma família chefiada pelo pai, a letra O de Oto,
e pela mãe, letra A de Alice. Os integrantes da Casinha Feliz trocavam seus
trajes em ocasiões de festas. Durante as festas e outros momentos agradáveis,
utilizavam letra cursiva.
Nem pretendo
me ater à figura das famílias tradicionais representada graficamente através de
papai, mamãe, vovô e vovó, isso vai ser tema de um próximo texto, mas sim ao
fato de que a letra cursiva de traços não muito regulares patrocinava ao aluno
uma série de atribuições inverídicas e cobranças por parte dos pais, colegas e
até mesmo professores, extremamente nocivas ao processo educacional e a estima
de quem aprendia. Por sorte, em um lar de educadores, nunca fui muito julgado
pelos “garranchos” e sim pela qualidade do que eu era capaz de produzir em
letra bastão.
Partindo do
pressuposto da teoria de Jean Piaget, o aluno é direcionado a encontrar
soluções a partir da sua interação com a realidade a que pertence. Nesse processo de interação, o aluno encontra
no cotidiano, correspondências claras a letra de forma nas mais diversas
situações. Placas de trânsito,
propaganda, rótulos, jornais, televisão, nas teclas do computador, nos
livros... Já a letra cursiva fica praticamente restrita ao meio escolar.
Levando isso
em consideração: Qual o formato permite pleno aproveitamento do processo de
alfabetização?
Vários
especialistas e educadores divergem suas opiniões quando o tema é levantado.
Em uma etapa inicial na qual o aluno está
aprendendo a representação gráfica da letra e sua relação com o fonema
correspondente, é de suma importância que cada letra preserve sua individualidade,
coisa que não acontece com a letra cursiva (emendada). É por esse motivo que o
uso de letra de imprensa é o recomendado, pois tem traços mais fáceis para
serem reproduzidos enquanto outras competências motoras ainda não foram
plenamente desenvolvidas.
Há quem
destaque o uso da letra cursiva como essencial para o desenvolvimento da
coordenação motora fina. Dentro da
proposta Construtivista, a letra bastão é utilizada para alfabetizar por ser de
fácil visualização e não exigir movimentos complexos na hora da escrita,
respeitando assim a sequencia de desenvolvimento visual e motor da criança.
Existem
inúmeras possibilidades para desenvolvimento da coordenação motora fina. No meu campo de atuação (Novas Tecnologias) o
simples uso do mouse no computador para desenhar já propicia esse
desenvolvimento. Massa de modelar, colagens, desenhar e colorir patrocinam
ganhos de habilidades muito mais significativos do que escrever “com letra
emendada”. Navegando pela neurociência,
o simples ato de desenhar gera ganho de motricidade.
E aonde cabe a
letra cursiva?
Com o acesso a
todo tipo de mídia impressa ou digital, ao que lê e escreve em seu computador,
a sociedade não exige tanto que o cidadão possua uma letra plasticamente perfeita.
A Instituição Escolar deve aceitar que a letra cursiva já não é mais essencial
e sequer possui o caráter seletivo das décadas anteriores. Ela deve ser
encarada como um ganho, uma evolução. O
ponto central é: alfabetizar, patrocinar uma leitura correta e a compreensão perfeita
do que se lê para integrar na mesma camada de conhecimento e equilibrar
potencialidades.
Até a próxima!
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